20.6.14

Emoção - Capitulo 3

 
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– COM LICENÇA, senhor, posso pedir um favor?

Joe Jonas ouviu a voz de uma jovem, mas como não sabia se ela estava falando com ele, não se deu ao trabalho de virar. Em vez disso, permaneceu concentrado em dar os toques finais à estante sob medida que deveria instalar hoje. Felizmente, apesar de suas preocupações com as paredes desgastadas daquele velho prédio de Nova York, todas as estantes que havia construído para a Beans & Books se encaixaram lindamente. Incluindo esta última.

– Senhor?

Embora curioso, afinal a voz soava um pouco insistente, mais uma vez ele a ignorou. Tentava evitar os clientes e normalmente não trabalhava até tarde da noite, quando a loja estava fechada. O proprietário realmente desejava que o último conjunto fosse instalado hoje, no entanto queria ter mais estantes para atrair aqueles compradores malucos da véspera do Natal que estariam lotando os corredores esta noite. Então concordou em aparecer logo depois do horário frenético de almoço, porém antes da hora do rush, às 17h.

Ele também chegou bem a tempo de escutar os barões bebendo café forte enquanto faziam acordos de dominação mundial via Bluetooth. Ah, e suas esposas-troféu dando uma passadinha entre as reuniões da liga de futebol infantil e as aberturas de exposições de museus para pegar um cappuccino sem gordura com leite de soja e polvilhado com alfarroba.

Manhattan era como um planeta diferente. Ele preferia Chicago, o lugar que havia chamado de lar durante os primeiros 23 de seus 24 anos. Era quase tão grande quanto e duas vezes menos pretensiosa.

– Alôôô?

Finalmente percebendo que a mulher poderia realmente estar falando com ele, coisa que sequer havia imaginado considerando que em Nova York ninguém chamava marceneiros de “senhor”, ele se virou. A jovem estava falando com ele… ela encarando-o, os olhos semicerrados, as bochechas sardentas coradas e a boca franzida.

– Desculpe, não percebi que você estava falando comigo. – Ele lhe ofereceu um sorriso. – Não estou acostumado a ser chamado de senhor.

A loira relaxou.

– Ah, sim. Desculpe. Eu, ouça, posso te pedir um grande favor?

Ele enrijeceu um bocadinho. Podia não estar acostumado a ser chamado de senhor por ali, mas vinha recebendo muitos convites sugestivos ultimamente.

– Sim?

– Está vendo minha amiga ali naquela mesa lá no canto?

Joe olhou para o local, vendo as costas de uma mulher sentada em um canto sombrio do lugar. Então olhou outra vez, interessado, apesar da própria apresentação, nos cabelos castanhos densos que caíam em ondas soltas pelo meio das costas. Ela se destacava em relação a todas as mulheres do local, pois a maioria delas usava um coque ou escova mais conservadores, típicos das executivas de Nova York. As mãos de Joe começaram a formigar, como se em expectativa para saber como seria mergulhar os dedos naquelas mechas sedosas.

Ele enfiou as mãos nos bolsos.

– O que tem ela?

– Ela é minha melhor amiga… Nós duas somos estudantes. Bem, ela precisa de ajuda em um projeto no qual está trabalhando. Estávamos sentadas aqui conversando sobre isso e tentando descobrir qual ferramenta seria melhor. – Ela deu de ombros. – Mas não temos nenhuma noção sobre esse tipo de coisa. Você acha que poderia ir até lá e oferecer a ela sua opinião de especialista?

Aquilo soou maluco para ele, a jovem parecia prestes a se soltar em um sorriso. Mas algo, aquele cabelo, o deixou curioso para ver mais da garota com problemas sobre ferramentas.

Ele olhou outra vez. Dessa vez, a morena se virou um pouquinho, como se procurando pela amiga, e ele captou um lampejo do rosto dela. Pele sedosa.

Nariz bonito. Cílios longos. Boca farta.

O ritmo cardíaco dele acelerou um pouco; ele estava interessado, apesar de tudo.

– Que tipo de projeto é? – perguntou ele quando começou a arrumar sua caixa de ferramentas portátil.

– Bem, acho que é melhor se ela mesma explicar. – Como se sentindo ceticismo dele, ela acrescentou: – Ela é estudante de fotografia, sabe, e eu estudo jornalismo. Nós duas mal sabemos a diferença entre um martelo e uma motosserra.

Ele não deveria ir lá. Mesmo. Embora tivesse terminado o serviço, tinha coisas a fazer referentes a outro projeto agendado para depois do Natal. Ele precisava telefonar para fazer alguns pedidos, ir à serralheria, revisar um projeto que havia esboçado.

Claro, tudo teria que vir depois que ele arriscasse a vida e integridade física no lugar mais terrível do planeta para se estar hoje: a loja de remessas postais mais próxima. Ele precisava enviar os presentes de Natal, obviamente pelo serviço de entrega em 24 horas. Aparentemente na semana anterior ele fora de carpinteiro autônomo ocupado para freguês procrastinador esquecido. Uma pena que não iria estar em casa para o Natal; se não mandasse um presente para irmã mais nova, iria ficar escutando sermões eternamente.

No entanto, mesmo com tudo isso, ele estava tentado a tirar dez minutos para ver se a morena era realmente tão atraente quanto parecia dali daquela distância. Isso sem mencionar conferir qual era o tal projeto misterioso.

– Por favor. Tenho certeza de que não vai demorar muito. Além disso, ajudar terceiros vai deixar você no espírito do Natal – disse a garota tentando parecer devota, apesar da malícia em sua expressão.

Ele riu do tom nobre dela. O sorriso e a piscadela diziam a ele que havia algo mais acontecendo. Ela provavelmente estava fazendo alguma brincadeira de cupido. Pela sua experiência, a morena deve ter enfiado a amiga nessa, desejando conhecê-lo, mas sem querer parecer atirada demais.

Tudo bem. Porque de repente ele desejava conhecê-la também.

E se a loira estava sendo aberta e honesta, e a outra precisava de alguma ajuda, bem, sem problemas. Talvez fazer uma boa ação por alguém, alguém super sensual com cabelos de aparência macia que ele desejava roçar em sua pele nua, era exatamente do que ele precisava. Certamente nada mais o deixaria no espírito natalino. Ele estava ocupado demais trabalhando, tentando provar para si e para os outros que era capaz de se virar sozinho e que não precisava trabalhar nos negócios da família, para se importar muito com comemorações.

A mãe dele suspeitava que este fosse o motivo pelo qual ele não iria passar o Natal em casa, porque ele não queria fazer mais uma jornada ao sentimento de culpa ou ter mais uma discussão com o pai. Ela não estava completamente errada.

– Tudo bem – disse ele notando o dono da loja sorrindo escancaradamente para ele de trás do balcão, obviamente empolgado por poder enfiar mais um monte de porcarias natalinas na frente dos clientes em potencial dentro da próxima hora. – Apenas me dê alguns minutos.

– Ah, obrigada!

A loira sardenta se virou e saiu, não em direção à amiga no canto, mas em direção à porta. Como se estivesse se fazendo de furtiva para que a amiga pudesse agir. Ele sorriu, perguntando-se por que as garotas faziam esse tipo de coisa. Ele provavelmente teria ficado mais interessado se a morena simplesmente tivesse ido até ele e dito um olá.

Depois de terminar de atender um cliente, o proprietário saiu de trás do balcão. Ofereceu um agradecimento efusivo a Joe, por ter finalizado o serviço tão rapidamente. Joe aceitou o cheque como pagamento final, o qual, ele notou, incluía um belo bônus de Natal, então apertou a mão do sujeito e recolheu suas ferramentas. Era hora da decisão. Seguir para a saída e se ocupar com seus afazeres? Ou tirar alguns minutinhos do dia para possivelmente ser fisgado por uma garota muito bonita que havia pedido à amiga que bancasse o cupido?

Droga. Ele podia até estar com fome, podia até precisar trabalhar para pagar as contas. Mas tinha 24 anos, era humano e homem. Uma menina bonita superava a comida em qualquer dia da semana.

Seguindo para a mesa, ele limpou um pouco de serragem dos braços, assentindo educadamente para as várias mulheres que sorriam e murmuravam felicitações natalinas. A morena não se mexeu na cadeira, embora ele a tivesse notado olhando para os lados, como se quisesse se virar para conferir se ele estava chegando, mas não quisesse ser muito óbvia a respeito.

Ela armou isso completamente.

Francamente, Joe não se importava.

Ele se aproximou por trás dela, prestes a pigarrear e se apresentar, quando a ouviu dizendo alguma coisa. Ela estava sozinha, obviamente, e devia estar falando consigo. E as palavras dela fizeram um buraco no ego que estivera dizendo a ele que ela havia mandando uma amiga para conseguir sua atenção.

– Você sabe que ficaria com medo de ao menos segurar uma motosserra – murmurou ela. – Ou até mesmo uma faca elétrica!

Droga. Ela realmente estava falando sobre ferramentas? Era algum projeto que ela precisava fazer?

Joe teve de rir de si mesmo. Será que sua irmã caçula, sempre a maior crítica do mundo, estaria rindo horrores dele agora? Ele tinha ficado todo convencido e seguro de que aquela estudante sensual estava prestes a chegar nele… e ela realmente só estava interessada no cinto de ferramentas dele.

– Esqueça a faca elétrica – disse ele se intrometendo nas reflexões dela, o marceneiro que existia nele estremecendo diante da ideia. – Elas não são feitas para cortar nada além de carne.

A garota girou a cabeça para olhar para ele, os olhos revirando em choque, boquiaberta.

Olhos castanhos imensos. Boca rosada, carnuda.

E ali estava o rosto perfeito em formato de coração. E, ah, aqueles cabelos. Densos e brilhantes, com ondas suaves castanhas que lhe emolduravam o rosto, e cachos que caíam lindamente pelas costas. Não havia um homem vivo que não se atrevesse a imaginar todo aquele cabelo como sendo a única coisa a cobrir o corpo nu dela; bem, exceto o próprio corpo nu do sujeito.

Ele ficou olhando, incapaz de fazer qualquer outra coisa. Ela era bonita quando vista de longe. De perto, era linda o suficiente para fazer o coração dele se esquecer de bater.

– Perdão? – disse ela balançando a cabeça levemente como se não conseguisse entender o que estava acontecendo. – O que você disse?

Ele pigarreou.

– Eu disse, você precisa usar a ferramenta certa para o serviço. Facas elétricas são para cortar carne. Agora, o que é que você estava pensando em cortar?

– Carne – respondeu ela, então selou os lábios rapidamente.

Ele riu, admirando a sagacidade dela.

– Carne de boi ou de porco?

– Eu diria lombo de porco – respondeu ela, retorcendo um pouco a boca. – Mas eu estava brincando. Eu definitivamente não preciso cortar carne nenhuma.

– Imaginei – disse ele. Sem esperar por um convite, ele contornou a mesa e se sentou na cadeira vazia, encarando-a. Disse a si que estava fazendo aquilo porque havia prometido à amiga dela que ofereceria seus conselhos de construção. Na verdade, ele só queria olhar para ela um pouquinho mais. Ouvir sua voz. Ver se a personalidade dela combinava com o visual.

A maioria dos caras da idade dele provavelmente não se importaria com isso. Joe, no entanto, se importava.

Ele podia ser jovem, mas não era inexperiente. E havia aprendido muito cedo que um rostinho bonito e um corpo ardentemente sensual eram o suficiente para se chegar aos lençóis. Mas depois disso, se não houvesse um ótimo senso de humor, um enorme coração e um cérebro para combinar com a sensualidade, ele simplesmente não conseguia permanecer interessado. Alguns de seus antigos colegas de faculdade costumavam brincar sobre a felicidade se resumir a um par de seios. Joe preferia uma mulher de verdade, da cabeça aos pés.

Ela parecia ter cérebro. Agora, no entanto, ele estava pensando nessa coisa toda sobre personalidade. Porque ela só continuava a olhar para ele, o rosto ficando vermelho, como se ela não soubesse o que dizer.

Ou então ela estava constrangida.

Hum. Talvez aquilo não tivesse a ver com algum projeto misterioso. Porque o jeito como ela estava enrubescendo o fazia suspeitar que ela tivesse algo malicioso em mente.

Fica mais interessante a cada minuto.

– Então, que grande projeto é esse?

– Projeto?

– Sim. Sua amiga veio até mim, me disse que você precisava de conselhos sobre ferramentas, para um projeto no qual está trabalhando.

Ela mordeu o lábio e fechou os olhos por um segundo, então sussurrou:

– Vou matá-la.

– Talvez seja por isso que ela foi embora… precisava de uma vantagem na fuga.

– Ela foi embora?

– Sim. Logo depois de vir pedir minha ajuda.

Resmungando, ela balançou a cabeça.

– Não consigo acreditar nisso.

– Então, ela estava tentando armar para a gente?

– Acho que sim.

– Que tipo de amiga faz isso? – perguntou ele. – Ela não me conhece… e se eu sou algum tipo de assassino em série ou ladrão de calcinhas?

Ela ergueu uma sobrancelha.

– Você é?

– Sou o quê?

– Uma dessas duas coisas?

Ele sorriu.

– Não para a primeira opção. Vou recorrer ao direito de permanecer calado em relação à segunda opção até nos conhecermos melhor. – Certo de que desejava aquilo, conhecê-la melhor, ele esticou a mão. – Sou Joe.

Ela espiou a mão dele, então esticou a sua e o cumprimentou. A mão dela era pequena, delicada. Frágil ao encontro da dele. Tendo trabalhado manualmente durante meses, ele sabia que tinha calos e bolhas, mas ela não pareceu se importar. Na verdade, foi ela quem segurou a mão dele por um instante, como se não quisesse soltar.

Finalmente, no entanto, ela recuou, murmurando:

– Demi.

– Prazer em conhecê-la, Demi.

– Prazer em conhecer você também. Principalmente agora que sei que você não é um assassino em série. – Ela esboçou um sorriso. – Quanto à outra opção, lembre-me de não entrar em uma loja de lingerie com você… eu não gostaria de ser presa como cúmplice.

– Que graça haveria em roubar calcinhas novas em folha? – Então, notando que ela arqueou as sobrancelhas, ele ergueu uma das mãos. – Estou brincando. Acredite, roubar roupas íntimas não faz meu gênero.

– Ajudar garotas misteriosas com projetos misteriosos faz?

– Aham. Agora, garota misteriosa, de volta ao projeto misterioso.

– Não existe nenhum.

– Sua amiga inventou isso?

Ela desviou o olhar, baixando os longos cílios.

– Não exatamente. Eu estava, hum, me perguntando qual ferramenta deveria usar para, hum, cortar uma coisa. E ela obviamente pensou que seria divertido inserir você nas minhas fantasias. – Ela arfou, encarando-o. – Quero dizer, eu não estava… Não é que eu estivesse fantasiando com você!

– Ahhh, estou arrasado.

– Se você soubesse qual é a fantasia, não ficaria arrasado – disse ela, o tom divertido.

– Então por que você não me conta? – perguntou ele meio que provocando. Sobre o que uma linda mulher fantasiava? Mais importante: sobre quem?

– Acredite, você não vai querer saber.

– Ah, acredite, definitivamente quero.

Ela o analisou por um instante, olhando atentamente como se para descobrir se ele estava falando sério. Então, aparentemente percebendo que ele estava, ela foi direta e contou a ele.
 

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