16.7.14

Blackout - Capitulo 28

 
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JOE OBSERVAVA Demi dormir, o sol batendo em suas nádegas e pernas, o braço jogado no rosto, o cabelo uma meada castanho avermelhada sobre o travesseiro.

Ele rolou para fora da cama e caminhou até o banheiro. Vestiu a cueca e o jeans. Ficar passeando nu na noite anterior era uma coisa, mas outra bem diferente era fazê-lo pela manhã. A magia da noite evaporara ao amanhecer.

Pegou sua câmera e a ajustou para a luz intensa que fluía no quarto. Nenhum deles pensara em baixar as persianas quando caíram na cama, quatro horas atrás.

Ela estava deitada parte na sombra, parte na luz. Ele tirou várias fotos, captou a brincadeira do sol na pele dela, recuando mais uma vez para a segurança detrás de sua máquina fotográfica.

Demi abriu os olhos, piscando, e sorriu, sonolenta, para ele. A pulsação de Joe acelerou. Ela espiou a câmera.

– Por favor, diga-me que não está tirando fotos de mim na cama com esta cara amassada e sem maquiagem.

Ela era uma mulher quixotesca: inabalável com sua nudez, mas preocupada com sua ausência de maquiagem.

– Você está linda – disse ele sem pensar.

E estava mesmo, com o cabelo emaranhado sobre os ombros e os olhos suaves e pesados de sono.

– Ahã… – Demi estendeu a mão diante da câmera. – Chega de fotos de manhã cedo. Por favor.

– Tudo bem.

Ela estava mesmo linda, mas ficaria tímida agora. Joe foi até a janela e olhou para a cidade, oferecendo a Demi um instante de privacidade sem de fato sair do quarto.

O colchão estalou, anunciando que ela estava se levantando. Ele ouviu os passos pelo quarto e o rangido em protesto da porta do banheiro.

Mais uma vez as pessoas se amontoavam lá embaixo, na rua, mas poucos carros circulavam. Ele tirou algumas fotos desinteressadas. Seu coração não estava no ato de fotografar a cena diante de si.

Ele ouviu a porta rangendo outra vez e Demi retornou ao quarto.

– Obrigado por ter ido ao hospital comigo ontem à noite – disse ele sem se virar.

Ambos haviam ficado cansados demais para conversar sobre qualquer coisa antes.

Ela abriu e fechou a gaveta da penteadeira.

– Estou feliz por ter conhecido seus pais. Que alívio sua mãe estar bem.

– Sim. É. – Joe fez uma careta por dentro.

Aquele era um péssimo caso de síndrome aguda da manhã seguinte. Ambos soavam como personagens em uma peça mal escrita.

– Gostei mais deles do que pensei que gostaria – disse ela, a voz abafada de dentro do closet.

– Eles estavam… diferentes.

E isso era um eufemismo. Era tão típico que as decisões dos pais de participar da vida de Joe girassem em torno das próprias necessidades. Eles não o procuravam porque se orgulhavam dele, ou porque tinham se dado conta de que haviam deixado de conhecer um ótimo ser humano. Não. Eles estavam sentindo a própria mortalidade, a própria vulnerabilidade, então Joe era seu apoio.

Joe ainda não era prioridade na pauta deles. E não acreditava em nada daquilo. Agora que sua mãe estava bem, ele esperava que eles retornassem ao seu mundinho insular de dois.

– Meus pais gostaram de você.

– Tentei não ser muito soltinha com eles. – Demi olhou para Joe e para a rua abaixo.

O cabelo de Demi roçou no braço de Joe, o perfume dela o cercou, e a urgência de tomá-la nos braços era quase insuportável; porém, a loucura noturna havia acabado.

– Você os encantou – disse ele, se afastando da janela, e de Demi.

– Há! Teriam ficado empolgados com qualquer um que tivesse salvado você de ser… como foi mesmo?… um frutinha.

Apesar do peso em seu coração e do constrangimento generalizado entre eles, Joe riu.

– Certo. Aquilo foi de uma preciosidade, não é? Se eu nunca levei uma mulher para conhecê-los, óbvio que devo ser gay. Encare, Demi, você encanta todo mundo.

– Sei! Não se esqueça da sra. Hinky. E posso lhe garantir que não deixei Richard encantado.

– Você e Richard tiveram um começo abaixo de estelar. – Eufemismo enorme. – Conseguiu se acertar com Wilmer?

Joe precisava ter certeza antes de ir embora.

– Estamos bem. Encerramos a história, assim eu posso abrir mão do antidepressivo. – Demi sorriu. – E vocês, trocaram beijinhos e fizeram as pazes?

Joe deu de ombros.

– Pulamos a parte dos beijinhos. Eu não queria Richard arrancando meus olhos por ciúme… mas estamos bem. – Ele estava fazendo piadas estúpidas, estranhas… definitivamente era hora de ir embora.

Joe começou a seguir em direção à porta, e Demi se colocou diante dele, impedindo-o.

Ela pôs as mãos no peito nu, e a pele dele parecia estar pegando fogo. Demi umedeceu os lábios com a pontinha da língua.

– Joe, quero que você saiba que a noite de ontem foi a melhor da minha vida.

Ele deu um passo atrás, fugindo do toque dela.

– Essa é uma reação bem incomum para um noivado rompido.

Demi deixou as mãos caírem ao lado do corpo e repreendeu-o com o olhar.

– Não é isso o que quero dizer, e você entendeu. Você foi a melhor parte da noite passada.

– Estou lisonjeado. – E estava, mas um deles precisava ser sensato.

Joe saiu do quarto. O estojo da câmera continuava perto da porta de entrada. Não estava escuro feito breu como na noite anterior, mas uma melancolia sombria acortinava a sala depois da luz cintilante do sol no quarto.

Implacável, Demi o seguiu.

– Não estou tentando bajulá-lo. Estou sendo honesta. Lembra-se de ontem à noite, quando seu pai disse à sua mãe que era “assim mesmo” entre nós dois?

Joe pegou o estojo da câmera sem fitá-la.

– Sim. E lamento que isso tenha acontecido. Eu não queria chatear minha mãe depois de ela ter sofrido um infarto.

– Eu não lamento. Quando ele disse aquilo, bem… eu percebi que seu pai tinha certa razão.

Joe ergueu a cabeça bruscamente. Será que Demi adivinhara que ele estava loucamente apaixonado por ela?

– O que quer dizer?

– Percebi que é assim mesmo para mim – disse ela, a voz baixinha no cômodo na penumbra.

Joe reprimiu a dor dentro de si. Demi estava frágil e vulnerável na noite anterior. Muito provavelmente sentiria o mesmo por qualquer outro sujeito que entrasse ali e a tratasse com a mínima dose de decência.

– Não. Demi, a noite passada foi um atenuante das circunstâncias. Você se encontrava emocionalmente exausta. Não confunda as circunstâncias da noite comigo.

– Está insinuando que não sei como me sinto? – Desta vez o tom suave anunciou uma tempestade iminente.

Mas o que ele tinha a dizer precisava ser dito.

Joe já se aproveitara dela de algum modo, na véspera. Ele seria um total idiota se a deixasse prosseguir com isso agora. E se contasse a ela como se sentia? No dia seguinte, na semana seguinte ou talvez no mês seguinte, Demi iria perceber quão imperfeito ele era, enxergaria a obscuridade nele, e Joe veria a aversão nos olhos dela.

Era bem melhor assim.

– A noite de ontem foi uma montanha-russa emocional para você. Dê a si mesma alguns dias, e esta vai ser apenas a noite na qual todas as luzes da cidade se apagaram.

– Não ouse me tratar com condescendência.

– Só estou sendo racional. Um de nós precisa ser. – No instante em que a frase saiu de sua boca, Joe soube que aquela era a coisa errada a se dizer.

– Diga-me que não ouvi você dizer isso, Joe Jonas.

Joe simplesmente queria que ela enxergasse o que era dolorosamente óbvio para ele. A noite anterior havia sido um espaço fora do compasso. Se Demi simplesmente fosse racional, veria que o dia de hoje estava de volta à normalidade. Contudo, talvez, mais uma vez, Demi não conseguisse sê-lo agora. Talvez fosse aquele período do mês em que os hormônios femininos enlouqueciam.

– Acho que você está se preparando para começar.

– Para começar o quê?

– Você sabe… com sua TPM? – perguntou ele.

O gato miou do outro cômodo.

– Sorte sua que não estou. Se estivesse, você estaria morto agora. – Demi irrompeu até a cozinha.

Joe a ouviu colocando ração na vasilha do gato ao passar por ali. Pegou sua camisa, as meias e as botas. Vestiu a camisa. Sentou-se na beira do sofá para calçar as meias e as botas.

Demi retornou da cozinha e acendeu algumas velas sem dizer palavra.

– Ouça, não é de admirar que você não esteja pensando com clareza, com Wilmer tendo saído do armário, o apagão, e depois de ter sido arrastada para o hospital no meio da madrugada. Está mais quente que no inferno, e você não dormiu muito. – Joe deu um laço no cadarço da bota.

– Isso tudo pode ser verdade, mas tenho bom senso suficiente para saber como me sinto.

– Você irá enxergar tudo de maneira diferente assim que a energia elétrica voltar. Um quarto fresco, um chuveiro quente, uma refeição decente e uma boa noite de descanso farão uma diferença enorme.

Demi plantou as mãos nos quadris, o calor e seu humor obviamente exigindo o máximo autocontrole.

– Toda a eletricidade do mundo não vai mudar o fato de que eu te amo, seu arrogante… – Demi se calou, fechando bem a boca.

– Não. – Joe cerrou as pálpebras por apenas um segundo. – Nós dois sabemos que não tem como você me amar. Uma mulher não vai de noiva de um sujeito a apaixonada por outro em menos de 24 horas.

E certamente nem ele, não o verdadeiro Joe à luz do dia em vez de alguma versão romantizada que ela criara baseada na véspera.

Demi ergueu o queixo, desafiadora.

– Coisas estranhas aconteceram. Para algumas pessoas, isso é amor à primeira vista.

– Eu sei. – Bastou uma simples olhadinha para ela para Joe saber.

Mas Demi não dera uma olhadinha para ele e se apaixonara. Joe servira apenas para amortecer o impacto da traição de Wilmer.

Um pouco da ira dela se evaporou.

– Ai, Deus! Eu fiquei tão envolvida… Desculpe por ter me jogado em cima de você. Esqueci que já tem alguém.

Joe balançou a cabeça.

– Existe alguém, mas… Alguns de nós fomos feitos para ficar sozinhos.

– Não. Eu não acredito nisso. Você é maravilhoso, carinhoso e… Recuso-me a acreditar que foi feito para ficar sozinho. Se a ama de verdade, vá atrás dela, Joe. Não espere até que seja tarde demais.

Circunstância perfeita, levando em conta que ela ainda estava exausta e emocionalmente instável.

– Decida-se, Demi. Se você me ama como diz, por que está me jogando nos braços de outra pessoa?

Ela acariciou o rosto dele, os olhos sombreados por uma tristeza que o perfurou.

– Porque não posso obrigá-lo a me amar se você não me ama. E orgulho é só uma coisa. Não tenho vergonha de ter me apaixonado por você. Recebi exatamente o que desejei. Este é o tipo de amor salto alto. – Ela recuou a mão e ofereceu um sorriso fraco. – Isto é difícil, Joe. A tenacidade sempre me levou para o caminho errado. Consegui quase tudo o que quis persuadindo ou chateando. Sei muito bem disso. Mas não posso agir como um buldogue para fazê-lo me amar. No entanto, é por isso que estamos aqui. É parte de nosso propósito na vida: amar e ser amado. Desse modo, se você está apaixonado por essa mulher, precisa dizer a ela. Não sou uma psicopata que quer que você fique infeliz e sozinho só porque não me quer. Quero que seja feliz.

Demi só pensava que o amava.

Joe sabia que não era possível.

– Demi, você é muito especial…

Ela balançou a cabeça e ergueu a mão para detê-lo.

– Não acho que posso escutar você me colocando a par de meus atributos. E, antes de chegar a esse ponto, deixe-me dizer que não consigo sentir o que sinto por você e ser só sua amiga.

Ele balançou a cabeça.

– Não. Não acho que possamos ser amigos. Foi uma noite ótima, e você é uma pessoa maravilhosa, mas estava certa ontem quando disse que era improvável que nossos caminhos se cruzassem outra vez. Você vai fazer algum sortudo muito feliz um dia…

Demi virou o rosto, abraçando o próprio corpo como se estivesse com frio, apesar do calor sufocante.

– Creio que é hora de você ir embora.

Joe pendurou o estojo da câmera no ombro.

– Mande-me a cobrança junto com as fotos.

– Não. Nós já discutimos isso. Nada de cobrar.

– Se você não me cobrar, então eu lhe deverei uma festa. Seria mais tranquilo e correto se você simplesmente me enviasse uma fatura. – Demi empinou um pouco o queixo, desafiando-o a discutir com ela.

– Espero que você encontre o homem dos seus sonhos, Demi.

Ela o encarou.

– Eu encontrei.

Joe saiu e fechou a porta detrás de si. Ela estava errada. E um dia Demi lhe agradeceria por isso.

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Oiiii girls!!!! estou passando aqui correndo, hoje tem minha única prova final, então é a minha ultima atividade na faculdade esse semestre, o que significa que eu terei tempo para escrever a fic a sexóloga qual eu já estou super atrasada e super triste de estar atrasada, mas eu espero consertar e poder postar vários capítulos nessa minha miniférias... Beijoooos <3
 

2 comentários:

  1. que triste :( tadinha da Demi... o joe ja deveria ter percebido que ela é verdadeira ne?

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  2. Ele está com medo de se iludir. A Demi não vai desistir fácil , pelo menos eu espero que não. Posta mais.

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