6.4.15

Sonho Realizado - Capitulo 1

Demi Seville afastou o carro para o acostamento da estra­da e desceu.
O dia estava fantástico. O sol de verão brilhava intenso no firmamento azul e límpido. A pitoresca paisagem rural de Connecticut era de tirar o fôlego. O aroma suave das flores do campo invadia suas narinas enquanto o canto dos pássaros ecoava no ar. Ela contornou o veículo até chegar a porta do carona e inclinou o corpo para tentar um vômito na grama. Inútil. Tratava-se apenas de um enjoo por causa da gravidez. O dia estava magnífico, mas as atribulações de sua vida se refletiam nos espasmos involuntários do seu estômago. Tempos atrás, antes mesmo de ter conhecido seu atual marido Holden Seville e embarcado no papel de espo­sa de um poderoso investidor da Bolsa de Valores, os médi­cos já haviam lhe informado que ela nunca seria capaz de engravidar. E agora, após quatro anos de casamento, a au­sência de filhos comprovava a esterilidade que os médicos lhe anunciaram.
Ela endireitou o corpo e afagou o ventre por cima do teci­do fino do vestido de verão. O abdômen ainda se mantinha liso, mas a gravidez era real. Os exames a que Demi se submetera, duas semanas antes, confirmaram uma gestação de quase três meses, o que ela considerava um verdadeiro milagre. O marido não compartilhara de sua alegria, muito ao contrário: Eu não quero saber de filhos! Era o que ele havia dito quando ela lhe contara sobre a gravidez.
Na verdade, a opinião do marido não era nenhuma novi­dade para Demi. Ele havia deixado bem claro quando lhe propusera casamento, um ano depois que começaram o na­moro, de que não desejava ter filhos. Crianças necessitavam de atenção constante, o que seria incompatível com o esti­lo de vida repleto de festas e coquetéis que Holden adorava e que pretendia prosseguir desfrutando. Demi não compar­tilhava do ponto de vista do marido, mas, na ocasião em que ele lhe propusera casamento, ela não contestara. Por que se preocuparia em debater um assunto irrelevante já que a pos­sibilidade de engravidar era praticamente nula? Pelo menos era o que ela acreditava. Até agora...
Outra onda de náusea a obrigou a curvar o corpo nova­mente.
— Oh, Deus! — ela exclamou e logo depois se recostou na porta do carona.
Como ela havia sido ingênua ao considerar que a determi­nação do marido se amenizaria ao saber que seria pai. E, para piorar, ele ainda teve a coragem de sugerir que ela se livrasse do bebê.
— Arranje um jeito de interromper sua gravidez! — fo­ram as palavras dele.
Sua gravidez... Como se Demi fosse a única responsável pela nova vida que começava a crescer em seu útero! E ele ainda terminou a frase com um ultimato:
— Se você não fizer isso, eu porei um fim em nosso ca­samento.
Então, menos de 24h após a discussão, Demi se encon­trava vagando por uma estrada da zona rural de Connecticut observando os campos e tentando acalmar as náuseas. Esta­va exausta e sentia falta de sua cama, no apartamento em que morava com o marido, em Manhattan. Ela sabia que precisa­va retornar. Havia saído de casa apenas com a bolsa e as roupas do corpo. Sentia-se magoada e desiludida e por isso precisava elaborar um plano antes de enfrentar Holden outra vez. E ela não pretendia deixar que ele lhe ditasse as regras da maneira como lhe conviesse. Afinal, ela também tinha seus direitos e os exerceria assim que conseguisse recuperar o autocontrole. E, dessa vez, seria ela quem lhe ofereceria alguns termos e condições.
— Ei, está tudo bem com você?
Uma voz masculina a assustou e ela girou a cabeça na direção de um homem que saía de uma casa de fazenda, logo abaixo do nível da rodovia, e caminhava na direção dela.
Meu Deus...! Será que ele tinha visto...? Um rubor de em­baraço corou as faces de Demi no instante em que seus olhares se cruzaram.
— Está tudo bem, obrigada — ela gritou de volta e rumou até a frente do carro, esperando que o estranho desistisse e retornasse para a casa.
Mas não foi o que aconteceu. Antes que conseguisse abrir a porta do lado do motorista da Mercedes, o homem estava na frente dela. Não seria uma atitude educada entrar no carro e deixá-lo estacado do lado de fora. Demi jamais seria capaz de cometer uma grosseria dessas. Por isso, permaneceu onde estava e ostentou um sorriso ensaiado, semelhante ao que costumava exibir nos tediosos jantares e festas promovi­dos pelos amigos do marido.
— Tem certeza de que está bem? — o homem pergun­tou. — Parece um pouco pálida. Talvez fosse melhor que se sentasse.
Demi deduziu que ele deveria ter uns trinta e poucos anos, a julgar pelo físico musculoso e as linhas suaves do rosto bonito. Os cabelos eram de um castanho em tom de chocolate que a brisa suave insistia em desalinhar.
— Estive sentada o tempo inteiro. Quero dizer, dirigindo — ela revelou e gesticulou na direção da estrada. — Eu ape­nas parei por que precisava... Bem, precisava esticar as per­nas.
— Certo. — Ele a estudou por um momento e depois in­sistiu: — Tem certeza de que não deseja um pouco de água ou qualquer outra coisa?
— Oh, não. Mas obrigada por oferecer.
Aquele era um tipo de resposta programada e por isso es­capou de seus lábios de maneira automática. Demi estava acostumada a esconder seus sentimentos através de uma fa­chada gentil e polida. Era essa a maneira como se comporta­ra desde criança. Não queria aborrecer seus pais e atrapalhar a agitada agenda de compromissos sociais que eles estavam acostumados a cumprir. E, da mesma maneira, havia prosseguido como a esposa ideal de um homem importante, ou seja, aceitando que a carreira de Holden estivesse sempre acima dos próprios interesses. Entretanto, ela estivera diri­gindo por mais de dez horas sem destino certo e não tinha ideia de quando tempo levaria para chegar à cidade mais próxima. E a verdade era que estava louca para refrescar o rosto e dar uma enxaguada na boca. Antes que se arrependes­se, decidiu falar de uma vez.
— Eu apreciaria se permitisse que eu usasse o banheiro da casa por uns minutos.
— Claro! — ele exclamou com um sorriso e apontou na direção de um caminho que ficava mais próximo, o mesmo por onde ele acabara de chegar. — Vamos por aqui mesmo.
Na medida em que ele percebeu os passos inseguros de Demi, repousou uma das mãos num ombro dela para asse­gurar-lhe o equilíbrio.
Ela considerou a atitude muito cavalheiresca em se tratan­do de um homem aparentemente rude e que trajava uma ca­miseta surrada e um jeans todo manchado de tintas de várias cores. No mesmo instante, Demi se repreendeu mentalmen­te por fazer um julgamento baseado apenas na aparência. Ela sabia, melhor que ninguém, que nem sempre as pessoas são o que aparentam. Ao longo dos anos, Demi conhecera homens bem-vestidos e que diziam coisas apropriadas, e que sabiam qual garfo usar para as saladas, porém, por trás de toda aquela sofisticação, se escondia um hipócrita sem escrú­pulos. Ela conseguia distinguir esse tipo de pessoa com muita facilidade. E quanto a ela? Será que alguém sabia exatamente como seria a verdadeira Demi Seville?
O último pensamento fez com que ela se lembrasse das boas maneiras:
— A propósito, meu nome é Demi.
Ele sorriu e um par de covinhas surgiu em suas faces.
— Prazer em conhecê-la. Meu nome é Joe.
Quando alcançaram a casa, Joe a auxiliou a subir os poucos degraus que conduziam à varanda e abriu a porta da entrada principal. Logo que entrou, Demi ficou curiosa ao notar a sala vazia. Não existia nenhum móvel, a não ser o cavalete de serrador posto ao lado da lareira.
— Você trabalha com reformas de casa?
— Não da maneira como imagina. Na verdade, eu comprei a casa e estou tentando promover algumas inovações.
— Ah, sei...
Joe repousou as mãos nos quadris e espiou ao redor com um brilho satisfeito no olhar.
— A cozinha está ficando muito bonita e o quarto dos fundos se encontra pronto. Estou apenas em dúvida quanto ao molde da coroa que deverei usar na sala. Não sei se ape­nas pinto ou uso um acabamento em madeira. Ambos com­binariam com a cornija da lareira que terminei de construir. O que você acha?
Demi reagiu com surpresa. Joe mal a conhecia e que­ria saber a opinião dela?
— Você quer saber o que eu acho? Ele encolheu os ombros.
— Claro! Uma opinião isenta é sempre bem-vinda. Além disso, você parecer ser uma pessoa de bom gosto.
A maneira franca como se referira a ela, fez com que Demi se sentisse lisonjeada, mas também um pouco confusa.
— Você mesmo construiu a cornija da lareira? Parece que é muito talentoso com as mãos.
— É o que dizem.
Um calor incendiou o rosto de Demi ao captar o duplo sentido da frase. Deveriam ser os hormônios, ela concluiu. Ou então, o cansaço.
Joe limpou a garganta com um ruído e depois falou:
— O banheiro fica no final do corredor.
— Obrigada.
Assim que ela começou a se afastar, ele gritou:
— Não repare a bagunça! Estou reformando o banheiro também!
Ele não estava exagerando a respeito da bagunça, con­cluiu assim que fechou a porta do banheiro. Havia azulejos e pisos empilhados por todo canto e uma lâmpada presa num fio pendurado do teto promovia a única iluminação do recin­to. Demi se aproximou da pia e abriu a torneira. Esperava que a água saísse um pouco barrenta, mas para sua surpresa ela saiu clara e límpida. Ela adorou a sensação refrescante quando terminou de enxaguar o rosto. Embora não fosse do tipo bisbilhoteiro, Demi estava desesperada por alguma coisa que pudesse tirar o gosto ruim que sentia na boca, por isso, abriu a porta do gabinete acima da pia e ficou aliviada ao encontrar um tubo de pasta dental. Colocou um pouco do creme na ponta do dedo indicador da mão direita e promo­veu uma higiene improvisada nos dentes.
Quando se encontrou com Joe no terraço, alguns mi­nutos depois, ela se sentia um pouco mais apresentável. Ele estava acomodado em uma cadeira de balanço do tipo namoradeira, construída em madeira pintada de branco, e segurava uma garrafa pequena de água em cada uma das mãos. Com um ombro mantinha o celular seguro em um dos ouvidos. Tão logo ela se aproximou, ele se ergueu e lhe entregou uma das garrafas de água e encerrou a liga­ção. A seguir, tornou a guardar o celular num bolso da camisa.
— Você está se sentindo melhor?
— Sim. Obrigada.
— Ótimo. Então sente-se. — Joe apontou um dedo na direção da cadeira de balanço de onde acabara de sair. Ela parecia confortável, apesar do revestimento almofadado es­tar gasto. E muito convidativa. Contudo, Demi meneou a cabeça e recusou o convite:
— Não, obrigada. Eu preciso ir agora.
— Por que a pressa? Está atrasada para algum compro­misso?
— Não é isso. Eu tenho certeza de que você está ocupado e não quero atrapalhar.
— Não se preocupe, eu não tenho urgência em terminar a reforma.
— Bem...
Notando-lhe a hesitação, ele insistiu:
— Por favor, Demi, fique mais um pouco. Considere como sua boa ação do dia — ele brincou. — Se você for embora agora, eu terei de voltar ao trabalho. E um intervalo me fará bem.
— Nesse caso... — Embora Demi não fosse o tipo de pessoa que costumasse perder tempo com um completo es­tranho no meio do nada, ela sorriu e se acomodou na cadeira de balanço.
A madeira rangeu com o peso e Demi se deliciou com o suave balanço e a brisa fresca que soprava gentilmente trazendo-lhe uma paz interior que quase a forçou a fechar os olhos e relaxar. Joe recostou o quadril no corrimão da cer­ca da varanda e posicionou-se de frente para ela.
— Se não se importar com a minha curiosidade, poderia me dizer para onde está viajando?
Demi abriu o lacre da garrafa de plástico e tomou um gole da água.
— Na verdade, eu não tenho um rumo programado. Esta­va apenas dirigindo ao acaso.
— Bem, o dia está lindo para um passeio sem compromis­so. E esta região é muito bonita. É uma pena que não esteja­mos na primavera para que você pudesse ver o meu pomar florescido.
— Pomar?
— Sim. Existem macieiras plantadas por uma extensão de três acres — ele revelou enquanto se posicionava atrás, dela e apontava um dedo na direção do pomar.
Ela acurou o olhar e verificou que as árvores estavam lo­tadas de maçãs verdes que haviam tomado o lugar das flores. Demi sempre vivera na cidade. Primeiro em Los Angeles e agora em Nova York. Mesmo na época de férias, viajava para lugares urbanos como Paris, Londres, Veneza, Roma e outros semelhantes. Contudo, havia algo naquele lugar que parecia atraí-la. Talvez fosse a tranquilidade, ela pensou. O fato de permanecer dez minutos naquela varanda parecia equivaler a mais de uma hora com sua massagista.
— Faz tempo que você mora aqui? — ela quis saber.
— Não. Eu o comprei no ano passado. — Joe revelou e provou um gole da água. Em seguida acrescentou: — Logo após o meu divórcio.
— Oh, sinto muito!
— Não se preocupe, eu estou bem.
A resposta de Joe foi rápida e taxativa. Porém, Demi imaginou que havia detectado um pouco de amargura no tom de voz dele. E, como não sabia o que deveria dizer, apenas murmurou:
— Entendo...
Joe não parecia esperar qualquer tipo de apoio moral. Por isso, mudou o assunto:
— Eu adoro desafios. Essa é uma das razões pelas quais comprei este lugar. Alguns meses depois que iniciei a refor­ma, fiquei cansado de precisar viajar todos os fins de semana. Então decidi tirar umas longas férias do trabalho e me mudei para cá.
Demi não poderia imaginar como seria tirar longas fé­rias do trabalho, já que seu marido bebia, comia e respirava a Bolsa de Valores. Mesmo quando aproveitavam viagens de lazer por curto período, Holden não largava o celular por muito tempo. Isso a incomodava a tal ponto que, mesmo que o marido mudasse de ideia a respeito do bebê, ainda assim, ela sabia que teria de enfrentar sozinha todas as necessidades da criança.
— Por que você está franzindo o cenho? — Joe per­guntou.
— Oh, desculpe-me. É que eu estava pensando... — Ela balançou a cabeça. — Deixe para lá, não é nada de importan­te. — Notando que ele a estudava, ela resolveu mudar o foco da conversa. — Você mora em Nova York?
Ele tomou outro gole da água antes de responder.
— Sim. Há mais de 12 anos.
Demi não conseguia imaginá-lo entre os arranha-céus e enfrentando o tráfego pesado da cidade. Embora ela mal o conhecesse, Joe parecia ser o tipo de homem que aprecia­va lugares abertos e calmos. Exatamente como aquele em que se encontravam no momento. E apesar de ela sempre ter vivido na cidade, podia entender a razão.
— Eu também moro em Nova York. — Demi declarou.
— Mas você não nasceu lá, nasceu?
— Não. Eu nasci em Los Angeles. Por quê?
Joe não sabia bem como responder àquela pergunta. De alguma maneira tinha achado que Demi parecia ingênua demais para alguém acostumada à vida agitada de uma cida­de grande. Entretanto, a maneira como ela estava vestida, desde o corte perfeito dos cabelos até as sandálias de saltos altos e finos, combinavam perfeitamente com a elegância das mulheres que ele costumava ver saindo dos clubes so­ciais de Manhattan, ou dos luxuosos prédios no Park Avenue, e entrarem nas limusines onde os motoristas particula­res as esperavam.
— Acontece que você não se parece com uma típica no­va-iorquina. — por fim, ele respondeu.
— Engraçado... Eu estava pensando o mesmo de você!
— Mas eu também não sou nativo de Nova York. Eu nas­ci em uma pequena cidade próxima de Buffalo. Está tão evi­dente que eu seja um caipira?
— Oh, claro que não!
Apesar da negativa, ele considerou que ela apenas tenta­va ser gentil. Também, da maneira como estava vestido não era de admirar que parecesse um matuto. Ela teria uma ideia bem diferente se o visse em um dos ternos que usava no trabalho. Por um instante, ele até desejou que estivesse mais bem-vestido para poder impressioná-la. Já fazia mui­to tempo que Joe não desfrutava de uma companhia fe­minina.
— Você gosta de Nova York? — A voz de Demi o tirou dos devaneios.
— A princípio sim — ele respondeu e sorveu mais um gole da água enquanto recordava o início de sua vida em Nova York. Além da excitação, ele ainda conseguira fazer seu primeiro bom negócio imobiliário. — E quanto a você?
Demi pareceu hesitar, mas depois confirmou:
— Gosto sim. E por que não gostaria? Existem ótimos restaurantes e uma infinidade de opções de lazer. Além das incríveis atrações culturais.
Ele a olhou com curiosidade. Aquela resposta parecia tirada de um guia de turismo. Depois concordou com um aceno de cabeça. Houve um pequeno intervalo e Demi foi a primeira a falar:
— Por que você decidiu comprar uma casa no campo?
— Para tentar desacelerar o meu ritmo de vida — ele res­pondeu com sinceridade. Estava trabalhando por quase se­tenta horas semanais. — Se eu não fizesse isso, com certeza já teria tido um infarto.
Joe mal podia acreditar que estava compartilhando seus problemas com uma completa estranha.
— Definitivamente, você não poderia ter escolhido um lugar mais calmo para viver e relaxar ao mesmo tempo. Nada de tráfego, buzinas, pressa... — O tom que ela usava soava melancólico e pensativo. Talvez a situação em que ela se encontrava a fizesse pensar em algo parecido com o que Joe escolhera.
— Por acaso você está procurando uma casa no campo? — ele arriscou.
— Eu? Oh, não... — ela respondeu balançando a cabeça. Em seguida retornou com outra pergunta: — Por quê? Você sabe de algum lugar para alugar aqui por perto?
— Esta casa estará no mercado assim que eu terminar a reforma. Mas eu acredito que ainda levará quase um ano para que fique completamente renovada.
Ela arqueou as sobrancelhas.
— Você pretende vender esta casa?
— Com certeza. Vender imóveis é mais ou menos o que eu faço para sobreviver.
A verdade era que Joe adquiria propriedades muito mais grandiosas que aquela e que valiam milhares de dóla­res. E também, o trabalho de reforma e modernização era realizado por uma equipe profissional contratada.
— Então esse é o seu trabalho? — ela perguntou com de­sapontamento na voz.
Ele deu de ombros.
— Digamos que sim.
Demi destacou uma pequena lasca da pintura antiga do braço da cadeira de balanço que ocupava e comentou:
— Pensei que estivesse trabalhando na casa por amor.
Trabalhando por amor? Joe até poderia considerar o trabalho que estava fazendo como uma espécie de terapia a fim de afastar da mente os recentes aborrecimentos que tive­ra. E não podia negar a satisfação que encontrava em obser­var o resultado do que executara com as próprias mãos. Con­tudo, estava decidido a vender a propriedade assim que estivesse pronta. Joe jamais planejara fazer dela uma residência permanente. Em algum momento, precisaria retornar para Nova York e prosseguir seu trabalho com a Phoenix Brothers Development, a empresa que possuía em sociedade com o irmão. Não poderia se esconder para sempre em Connecticut e deixar sua responsabilidade nas costas do irmão.
— Quer dizer que está procurando uma casa para alugar? — ele tornou a perguntar.
— Sim, mas... O que eu preciso é de algo bem menor que esta casa. Um pequeno chalé ou coisa do tipo. E que esteja disponível de imediato.
Joe ficou pensativo e considerou a hipótese de que ela talvez estivesse fugindo de alguma coisa.
— Por acaso está pretendendo morar nesse lugar?
— Sim. Pelo menos temporariamente — ela enfatizou com um gesto de cabeça, como se tivesse acabado de tomar aquela decisão. — Você conhece alguma cabana disponível nas redondezas?
— Quer dizer em Gabriel Crossing?
A maneira como Demi o olhava, fez com que Joe desconfiasse que ela não tinha a mínima ideia de que aquele era o nome da região em que se eles se encontravam no momento.
— Talvez... Essa cidade fica próxima?
A pergunta dela confirmou as suspeitas de Joe. Contu­do, ele preferiu não pressioná-la e fez uma sugestão:
— Eu tenho uma cabana que fica atrás da casa e próxima do pomar. Eu mesmo morei nela por alguns meses até que a fiação elétrica da casa estivesse terminada.
— E você pretende alugá-la?
Joe não tinha a menor intenção de assumir um inquili­no. Com certeza, não precisava daquele pequeno rendimento e muito menos dos problemas que uma locação poderia lhe ocasionar. Porém, antes que conseguisse raciocinar com maior clareza, ele se viu acenando positivamente com a ca­beça de maneira automática.
— Só que ela não é grande.
— Não preciso de muito espaço.
Joe deu uma espiada nas roupas de grife que ela usava e hesitou por um momento. Ele sabia que a área inteira da cabana poderia caber na suíte máster do apartamento dele em Nova York. E poderia apostar que o mesmo deveria acontecer em relação ao lugar em que ela morava.
— O problema é que o armário de roupas é pequeno.
Ele tinha certeza de que esse detalhe a desanimaria. Joe quase desejou que isso acontecesse. Ele estava agindo por impulso outra vez e provavelmente se arrependeria depois. Contudo, a falta de espaço no guarda-roupas pareceu não arrefecer o ânimo de Demi.
— Será que eu posso ver, a cabana?
— Você está mesmo interessada? — Joe insistiu, saben­do que a locação não tinha nada a ver com negócios. Demi era uma mulher bonita e enigmática e ele não se importaria em tentar lhe desvendar os segredos. Então, pela primeira vez desde o momento em que a viu, ele se lembrou de observar os dedos da mão esquerda dela para verificar se havia uma alian­ça. Um anel com um magnífico diamante estava acompanhado de uma aliança de ouro. O que significava que Demi era uma mulher casada. Ele quase riu em tom sonoro. Era isso que tinha ganhado por ter sido precipitado!
Agora era tarde demais para desistir de sua apressada oferta. O melhor seria manter em segredo a atração que sen­tira por ela. Afinal, não estava mesmo a fim de um relaciona­mento depois de um conturbado divórcio. Embora sentisse falta de uma companhia feminina, Joe não se arrependera da decisão que havia tomado com relação ao término do seu casamento.
— Estou muito interessada — Demi revelou depois de uma pequena pausa. — Será que você poderia mostrá-lo agora mesmo? Isto é, se não for atrapalhar o seu trabalho.
Joe improvisou um sorriso educado.
— Por que não? Como lhe disse, o trabalho poderá esperar.
~
Demi estacou no meio da sala da cabana e espiou ao redor. O espaço era realmente pequeno, porém acolhedor. O recin­to estava vazio, com exceção de uma poltrona em frente da janela que dava vista para o pomar, e algumas caixas cober­tas de poeira e que Joe garantiu que seriam removidas. Ela já havia verificado o quarto. Apesar de apertado ainda seria possível colocar lá uma penteadeira.
— E então? O que achou? — Joe perguntou.
Demi não era do tipo que gostava de resolver as coisas de maneira precipitada. Geralmente costumava pensar cui­dadosamente nos detalhes. Algumas vezes até chegava ao cúmulo de programar listas onde constassem os prós contras e analisava a questão meticulosamente antes da deci­são final.
Mas isso não aconteceria naquele dia. Estava decidida a mudar definitivamente a sua vida e sua maneira de ser. Co­meçando por deixar o marido e providenciar um novo lar para ela e para o bebê que esperava.
— Vou ficar com a cabana — ela afirmou e podia jurar ter sentido como se um peso tivesse saído de cima dos seus om­bros. — Talvez eu deva agir de maneira espontânea de agora em diante. — Ela resmungou como que para si mesma.
— O que disse? — Joe perguntou.
— Oh... Nada de importante. Estava apenas pensando em voz alta. Qual é o valor do aluguel?
Joe coçou o queixo com dois dedos da mão direita en­quanto pensava. Depois declarou um montante que Demi seria perfeitamente capaz de arcar. Ela não era uma pobretona quando se casou com Holden. Inclusive, havia se graduado em publicidade e conseguido uma excelente posição em uma das melhores empresas de propaganda em Manhattan. Infe­lizmente, fora obrigada a se demitir do emprego, por imposi­ção do marido, logo após o casamento. Mas, se fosse preciso, conseguiria um novo trabalho a qualquer momento. Por en­quanto, o que ela mais precisava era de paz e tranquilidade.
— Eu concordo — ela avisou. — Quando poderei me mudar?

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                        Primeiro capítulo pra vocês, comentem para o próximo. Boa leitura.
                                               xoxo Nathi

8 comentários:

  1. mt bom
    ansiosa pra le essa fic
    posta mais!!

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  2. Graças a Deus vcs voltaram ...... seja bem vinda Nathi..... adorando a história...... continua please.....

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  3. Aeee fic nova... bem vinda Nathi muito obrigada pro ter postado hj tava anciosa por ler uma fic nova
    Essa fic parece ser muito boa e fofa ja quero mais capitulos. Posta logo

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    1. Olha que doido a gente é tipo xara pq tu é nathalia santos e eu sou nathaly dos santos kkkk

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